Vaginite e vulvite
Material do Manual Merck
A vaginite é uma inflamação
da mucosa da vagina. A vulvite é uma inflamação da vulva
(os órgãos genitais femininos externos). A vulvovaginite é uma
inflamação da vulva e da vagina.
Nessas situações, os tecidos
inflamam-se e produz-se uma secreção vaginal. As causas compreendem
infecções, substâncias ou objectos irritantes, tumores ou
outro tecido anormal, radioterapia, fármacos e alterações
hormonais. A higiene pessoal insuficiente pode favorecer o crescimento de
bactérias e de fungos, bem como causar irritação. Além
disso, as fezes podem passar do intestino para a vagina por um trajecto anormal
(fístula) e provocar uma vaginite. Durante o tempo em que a mulher é fértil,
as alterações hormonais provocam uma secreção anormal
aquosa, mucosa ou branca-leitosa, que varia em quantidade e características
conforme as diferentes fases do ciclo menstrual. Depois da menopausa, o revestimento
interno da vagina e dos tecidos da vulva perdem espessura e o fluxo normal
diminui devido à falta de estrogénios. Em consequência, a
vagina e a vulva infectam-se e lesionam-se com maior facilidade.
As recém-nascidas podem ter uma secreção
vaginal devido aos estrogénios que provêm da mãe antes de
nascer. Em geral, desaparece passadas duas semanas.
Sintomas
O sintoma mais frequente da vaginite é a
secreção vaginal anormal. Uma secreção anormal é a
que se produz em grandes quantidades, exala um odor forte ou é acompanhada
de comichões, queixas ou dor vaginal. Muitas vezes a secreção
anormal é mais espessa que a normal e a cor é variável. Por
exemplo, pode ter a consistência do requeijão ou pode ser amarelada,
esverdeada ou manchada de sangue.
Uma infecção bacteriana da vagina
tem tendência para produzir uma secreção turva branca, cinzenta
ou amarelada com odor repugnante ou semelhante ao do peixe. O cheiro torna-se
mais intenso depois do acto sexual ou da lavagem com sabão, pois ambos
diminuem a acidez vaginal e, como consequência, favorece-se o desenvolvimento
bacteriano. A vulva pode estar irritada ou com uma ligeira comichão.
Uma infecção provocada por Candida (um
fungo) (Ver secção 17, capítulo 189) provoca uma comichão entre
moderada e intensa e ardor na vulva e na vagina. A pele torna-se avermelhada
e é áspera ao tacto. Da vagina sai uma secreção espessa,
semelhante ao queijo, que tem tendência para aderir às suas paredes.
Os sintomas pioram durante a semana anterior ao ciclo menstrual. Esta infecção
tem tendência a reaparecer nas mulheres que sofrem de diabetes mal controlada
e nas que estão a tomar antibióticos.
Uma infecção por Trichomonas
vaginalis, um protozoário, provoca uma secreção branca,
verde-acinzentada ou amarela que pode ser espumosa. (Ver secção 17, capítulo 189) A secreção aparece pouco depois da menstruação
e pode ter um odor desagradável. É acompanhada de uma comichão
muito intensa.
Uma secreção aquosa, sobretudo
se contiver sangue, pode ser causada por um cancro da vagina, do colo uterino
ou do revestimento interno do útero (endométrio). Os pólipos
cervicais (colo uterino) podem provocar hemorragia vaginal depois do coito.
Se a comichão ou os incómodos vulvares persistirem durante algum
tempo, as possibilidades podem ser uma infecção por papilomavírus
humano ou um carcinoma in situ (um cancro muito localizado que não
invadiu outras áreas e que, em geral, o cirurgião pode extirpar
facilmente).
Uma ferida dolorosa na vulva pode ser
causada por uma infecção herpética ou por um abcesso, enquanto
uma úlcera que não provoca dor pode dever-se a um cancro ou à sífilis.
Os piolhos da púbis provocam comichão na zona da vulva (pediculose
da púbis). (Ver secção 18, capítulo 203)
Diagnóstico
As características da secreção
podem sugerir a causa, mas é necessária informação adicional
da paciente para fazer o diagnóstico (como, por exemplo, em que momento
do ciclo menstrual tem lugar a secreção, se é esporádica
ou contínua, como respondeu a tratamentos anteriores e se sofre de comichão,
ardor, dor na vulva ou se tem uma ferida vaginal). O médico também
pergunta acerca das medidas anticoncepcionais, se há dor depois do acto
sexual, se manifestou infecções vaginais anteriormente ou doenças
de transmissão sexual e se usa detergentes para a roupa que possam provocar
irritação. Certas perguntas podem inquirir se o parceiro sexual
apresenta sintomas ou algum membro da família sofre de comichões.
Ao examinar a vagina, o médico utiliza
uma vareta com ponta de algodão para recolher uma amostra da secreção,
que será examinada ao microscópio ou cultivada no laboratório
com o fim de identificar os organismos infecciosos. Inspecciona-se o colo
uterino (cérvix) e recolhe-se uma amostra de tecido para um teste de
Papanicolaou (Pap) (Ver imagem da secção 22, capítulo 231) que pode
detectar o cancro cervical. O médico faz também uma exploração
bimanual: introduz na vagina os dedos indicador e médio de uma mão
e, com a outra, pressiona suavemente por fora da zona inferior do abdómen
para palpar os órgãos reprodutores. Quando uma mulher tem uma inflamação
da vulva durante muito tempo (vulvite crónica) que não responde
ao tratamento, habitualmente o médico recolhe uma amostra de tecido
para a examinar ao microscópio (biopsia), com o fim de detectar possíveis
células cancerosas.
Tratamento
No caso de uma secreção normal,
as lavagens frequentes com água podem reduzir a quantidade da mesma.
No entanto, uma secreção provocada por uma vaginite requer um tratamento
específico, de acordo com a sua causa. Se se tratar de uma infecção,
o tratamento consiste na administração de um antibiótico,
de um antifúngico ou de um antivírico, conforme o tipo de agente
patogénico. Até que o tratamento faça efeito, pode proceder-se
também à lavagem da zona com uma mistura de vinagre e água
durante pouco tempo para controlar os sintomas. No entanto, a lavagem frequente
com ou sem medicamentos não é muito conveniente, pois aumenta o
risco de contrair inflamação pélvica. Se os lábios (partes
carnosas que rodeiam os orifícios da vagina e da uretra) estiverem colados
devido a infecções anteriores, a aplicação de estrogénios
em forma de creme vaginal, durante 7 a 10 dias, costuma facilitar a sua abertura.
Além de um antibiótico, o tratamento
de uma infecção bacteriana pode incluir também geleia de ácido
propiónico para que aumente a acidez das secreções vaginais
(o que inibe o crescimento das bactérias). Para as infecções
de transmissão sexual, ambos os membros do casal são tratados ao
mesmo tempo para evitar uma nova infecção.
O adelgaçamento do revestimento interno
vaginal depois da menopausa (vaginite atrófica) trata-se com uma terapia
substitutiva de estrogénios. (Ver secção 22, capítulo 233) Estes
podem ser administrados por via oral, mediante um emplastro cutâneo
ou mediante a aplicação tópica, directamente na vulva e na
vagina.
Os fármacos utilizados para tratar
a vulvite dependem da sua causa e são os mesmos que se usam para tratar
a vaginite. Outras medidas complementares incluem o uso de roupas largas
e absorventes que permitam a circulação do ar, como a roupa interior
de algodão, bem como manter a vulva limpa. Dever-se-
-á usar sabão de glicerina, porque muitos dos outros sabões são irritantes. Por vezes, colocar gelo sobre a vulva, um banho de imersão frio ou aplicar compressas frias reduz a dor e a comichão. Os cremes e os unguentos com corticosteróides, como os que contêm hidrocortisona, e os anti-histamínicos por via oral também reduzem a comichão quando esta não é originada por uma infecção. O aciclovir aplicado como creme ou por via oral atenua os sintomas e diminui a duração de uma infecção herpética. Os fármacos analgésicos tomados por via oral podem aliviar a dor.
-á usar sabão de glicerina, porque muitos dos outros sabões são irritantes. Por vezes, colocar gelo sobre a vulva, um banho de imersão frio ou aplicar compressas frias reduz a dor e a comichão. Os cremes e os unguentos com corticosteróides, como os que contêm hidrocortisona, e os anti-histamínicos por via oral também reduzem a comichão quando esta não é originada por uma infecção. O aciclovir aplicado como creme ou por via oral atenua os sintomas e diminui a duração de uma infecção herpética. Os fármacos analgésicos tomados por via oral podem aliviar a dor.
Se a vulvite crónica se dever a uma
higiene pessoal deficiente, o primeiro passo consiste em dar à mulher
as instruções apropriadas. Uma infecção bacteriana trata-se
com antibióticos. Em certas doenças cutâneas, pelo contrário,
como a psoríase, são utilizados cremes que contenham corticosteróides.
Deverão deixar de se utilizar todas aquelas substâncias que provoquem
uma irritação persistente, como os cremes, os pós de talco
e algumas marcas de preservativos.
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